AMEN SENHOR PADRE, AMEN

Deus existe. Sim. Eu acredito que existe. Sempre andei na catequese e fui menina de coro até. Conheço os princípios da religião e por isso posso falar deles. No dicionário de língua portuguesa tem a seguinte definição da palavra “Deus”: “ser absoluto e único, infinitamente perfeito, necessário e eterno”. Com a minha condição de ser imperfeito, pecador e mortal tenho a certeza que o Deus dos crentes não se vai importar que eu discorde desta definição.

No passado dia 1 de Novembro, os cemitérios encheram-se, mais uma vez, de famílias. Pessoas de todas as idades, penteadinhas, engomadinhas e cheirosinhas foram assistir à Missa em honra dos “fiéis defuntos”. Eu fiquei em casa, como faço todos os anos. Se quero manter viva a memória de alguém que morreu não preciso de ir ao cemitério, ainda por cima num dia estipulado. O respeito que temos pelas pessoas que nos são queridas demonstra-se em vida, quando elas estão cá para ver. Mas não. Ainda há quem ache que encomendar as flores mais caras e limpar a campa uma vez por ano são a melhor forma de homenagear quem morreu.

Isto já para não falar das Missas, diárias para os que têm insónias; semanais para os contidos e inexistentes para os práticos. Digo práticos porque se é verdade que “Deus é omnipresente, omnisciente” e omni tudo, podemos rezar em qualquer sítio, não necessariamente numa Igreja. As crianças, geralmente obrigadas a ir à catequese (porque de certeza que preferiam ficar em casa a ver a rua Sésamo) passam os intermináveis minutos da missa a perguntar à catequista se falta muito para acabar; os adultos reparam na decoração e pensam nos problemas da vida, mas se lhes pedíssemos um resumo da homilia não teriam nada a dizer. Por estas e por outras já não ponho o pé na Igreja há uns tempos valentes. Não tenho saudade de padres. Não acredito em padres. E não preciso de padres. Se quero desabafar com alguém falo com amigos. Ao contrário de alguns padres, os nossos amigos ajudam-nos sem fazerem perguntas estranhas como: “já fizeste brincadeiras com um menino?”. Um padre é uma pessoa igual a nós. Não é ninguém para saber as minhas confissões.

Mas eu acredito em Deus. Juro que acredito. Só que acredito no meu Deus. Deus pode ser uma laranja para um mendigo. Pode ser um emprego para um desempregado. Pode ser a cura de um doente. O tal “ser absoluto e único” não passa de uma fraqueza do Humano, que precisa de sentir que há algo superior que o ajudará nos momentos difíceis. Se algum crente estiver a ler a minha crónica vai gritar “blasfémia”. Mas estou descansada, porque a esta hora a maior parte dos crentes está na Missa…Ámen.